Especial Oscar: Os Miseráveis

A festa mais especial do mundo das artes está chegando! No dia 24 de fevereiro, os holofotes do mundo estarão voltados para a entrega dos Academy Awards, ou popularmente conhecido como Oscar.

(um dia desses, numa sessão curiosidade, eu conto a razão do por quê os Academy Awards ganhou esse nome. Um doce pra quem souber)

Exatamente por isso pensei em fazer postagens especiais sobre o Oscar! Aproveitando que estou em clima de cinema, e estou tentando assistir aos indicados, falarei de alguns que pude conferir e, claro, estão na lista dos mais assistidos E indicados.

Começaremos hoje com a adaptação de um clássico da literatura francesa, particularmente muito bom ao meu ver. Na verdade, uma adaptação da adaptação, já que este filme é baseado no homônimo musical da Broadway... estou falando de Os Miseráveis.


A história

"Os Miseráveis" é uma história de época, passada poucos anos após o fim da Revolução Francesa e do Império de Napoleão Bonaparte. Em uma França em frangalhos, depois de tempos tão turbulentos, Jean Valjean, moço humilde preso após o roubo de um pão, se vê livre de sua pena de prisão. Mas, com a perseguição do inspetor Javert e com sua condição de ex-presidiário, Valjean se vê obrigado a mendigar e a  voltar para sua vida miserável. Sua vida muda quando encontra o bispo Don Bienvenu, que lhe mostra que a vida ainda pode ser boa com os pobres, e que a humanidade pode também ser benevolente.

Além da saga de Jean Valjean e da busca incessante do Inspetor Javert, temos também a triste história da jovem Fantine, mãe solteira e abandonada que precisa encontrar forças para ganhar não só seu sustento, mas também o de sua filha, Cosette. Fantine representa a vítima das circunstâncias, e também da realidade cruel sobretudo com as mulheres daquele tempo. Obrigada a se prostituir, vender os dentes e os cabelos apenas para manter a dignidade de sua filha, Fantine é resgatada por seu ex-patrão, mas sua saga continua sendo uma das mais trágicas da história.

Cosette, a pequena filha de Fantine, também tem seu grande espaço na história. A pequena, forçada a trabalhos severos na casa de seus hospedeiros, os Thénardier, é uma criança sofrida e maltratada, porém com esperanças de que sua vida um dia irá melhorar. Sua recompensa chega quando o ex-patrão de sua mãe vai buscá-la, e com isso passa a criá-la como se fosse sua própria filha. Desde então, Cosette, ao crescer, é a protagonista do romance de "Os Miseráveis", quando se apaixona pelo nobre e revoltado Marius Pontmercy.

Marius, neto do Barão de Pontmercy, e seu grupo de amigos, representam o espírito de luta e coragem que acompanham os franceses mesmo após o fim da Revolução. A vontade de um novo governo, livre dos abusos da nobreza e da aristocracia ultrapassada, faz com que toda a história de "Os Miseráveis" culmine na justa luta por uma vida melhor, sobretudo para aqueles que apenas querem dignidade. Um espírito que contagiou o mundo, e até hoje acompanha os franceses.

O filme

Protagonizado por um elenco de peso, podemos ver a atuação de velhos conhecidos do público do Oscar e do cinema em geral. A começar por Russel Crowe, famoso pelo premiado "O Gladiador" e responsável por dar vida ao implacável Inspetor Javert. Depois, temos a presença de Hugh Jackman, o eterno Wolverine da saga X-Men, apesar de, nesse filme, nada lembrar do mutante malhado e mal-encarado que o público está acostumado, já que encarna o protagonista Jean Valjean. Também temos a presença de Anne Hathaway, no papel da sofrida Fantine, com direito a cena de corte de cabelo e tudo. Por fim, para quem está acostumado a musicais, poderá ver Amanda Seyfried (Mamma Mia) como Cosette adulta, além de Helena Bonham Carter (O Discurso do Rei, Harry Potter, Sweeney Todd e muitos outros) e Sacha Baron Cohen (Borat) como o divertido e mau caráter casal Thénardier.

O filme, como já dito, é uma adaptação, antes de tudo, do musical da Broadway. Por isso, não estranhe se, mesmo para um musical, houver músicas O TEMPO TODO. As cenas são todas praticamente cantadas, sobretudo as que mostram Jean Valjean e o Inspetor Javert, e somente no final podemos conferir mais falas com a história de Marius. Uma positiva novidade de "Os Miseráveis" é que, ao contrário do que acontece nos filmes musicais, as músicas não foram pré-gravadas, e sim cantadas de frente para as câmeras, para que ficasse mais fiel possível ao musical original.

Dirigido por Tom Hooper (do premiado O Discurso do Rei), o filme estreou em 1 de fevereiro no Brasil, e tem 2h38m de duração. Distribuído pela Paramount Filmes, teve orçamento de 61 milhões de dólares e a bilheteria já chegou em 300 milhões em todo o mundo! Para o Oscar, foi indicado para 8 categorias: Melhor Filme, Melhor Ator (Hugh Jackman), Atriz Coadjuvante (Anne Hathaway), Design de Produção, Figurino, Maquiagem, Mixagem de Som e Canção (Suddenly).

A avaliação

"Os Miseráveis" tem duas grandes forças e duas grandes fraquezas. Primeiro, os pontos mais positivos: as atuações (sobretudoo Hugh Jackman) e a ambientação do local.

Comecemos pelo quesito atuação.

Uma das maiores dificuldades em um musical, a meu ver, é manter em sintonia não só a atuação (postura, face, movimento corporal) com a música em si. Passar a emoção de uma letra é algo que poucos conseguem fazer, mesmo profissionalmente, imaginem em musicais.

Os atores de "Os Miseráveis" conseguiram. E olha que o teor político, social e dramático das letras é bem grande o desafio. Eu particularmente aplaudo em pé o trabalho de Hugh Jackman, que realmente deixou para trás o marombado Wolverine e emagreceu BASTANTE para viver Jean Valjean, e encarnou o jeito sério, sofrido porém ainda esperançoso e piedoso do ex-detento. E cantando (ok que eu não sei se foi ele MESMO quem cantou, eu sempre tenho minhas dúvidas), passando a emoção de alguém atormentado pelo passado e pela culpa, Hugh Jackman emocionou.

Russel Crowe está meio estático no papel de um implacável perseguidor e amante eterno da justiça e do governo, mas ainda assim consegue impôr emoção ao cantar as músicas de Javert. Ele só poderia colocar um pouco mais de emoção na expressão facial. Não é porque Javert é frio e calculista que ele precisa parecer uma criança cantando pela primeira vez na frente de todo mundo (ok, a voz não é nada infantil, mas ainda assim).

Anne Hathaway interpreta muito bem Fantine, mas durante sua fase doentia. A direção acertou no preparo de Anne, e sua interpretação da famosa música 'I dreamed a dream' é de chorar. A única coisa que acho é que Anne demorou a entrar na vibração de Fantine. Até a cena da retirada dos dentes, Anne estava tímida, apática. Após isso, sua atuação foi simplesmente brilhante.

(e foi um acerto o trailer ser embalado por esta música).



O resto do elenco... bem, o casal Thénardier está muito engraçado, já que ficou na mão de dois atores experientes no assunto. Amanda Seyfried decepciona no papel da Cosette adulta... aliás, o personagem da Cosette decepciona em diversos momentos, e o romance Cosette/Marius não embala de forma alguma. A única parte realmente emocionante no enredo da revolta e das barricadas são as canções em conjunto (os revoltosos juntos passam mais emoção do que Marius em toda sua história) e a história de Éponine e Gavroche, os dois personagens dos quais valem a pena ter notícia nesse ponto do filme.

A ambientação local... o filme não foi indicado ao Oscar de Melhor Figurino e Maquiagem à toa. O cenário e o cuidado com fotografia fazem com que pareça que realmente estamos pelas ruas da miserável França, sobretudo num ambiente pós Revolução. As personagens femininas, especificamente, conseguem passar o desespero e a situação degradante a que elas eram submetidas.

Os pontos negativos? Duração do filme e adaptação.

Olha, concordo que o musical é extenso, e a história do filme é extremamente densa e rica de detalhes, mas uma coisa é durar porque tem cenas necessárias. Outras, é alongar cenas que poderiam ser reduzidas ou mesmo cortadas porque, afinal, um filme não é uma peça de teatro.

Eu mesma cortaria ao menos umas três cenas entre Marius e Cosette numa boa ¬¬ Ok, é importante porque isso motiva Jean Valjean a lutar, mas há muito mais química e intenção nas cenas das barricadas e nas de Éponine do que nas preteridas pelo diretor.

E como a duração do filme acaba sendo uma consequência da adaptação, devemos entender que esta também não foi feita com tantos cuidados. Explico: o filme cansa em certo momento, sobretudo após a entrada do enredo final. Já que tudo foi feito com o mais extremo zelo, e o filme foi quase que inteiramente cantado, o público nem sempre está pronto para receber cargas tão altas, ou ver algo que, originalmente, tem um intervalo entre atos. A duração pecou em excesso, e a adaptação pecou por não perceber esse tipo de detalhe e cortar algumas partes.

Mas, avaliação final?

Boreal recomenda!


FICHA TÉCNICA

Diretor: Tom Hooper
Elenco: Sacha Baron Cohen, Helena Bonham Carter, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Hugh Jackman, Russell Crowe, Eddie Redmayne, Samantha Barks, Aaron Tveit, Colm Wilkinson, Ella Hunt.
Produção: Eric Fellner, Debra Hayward, Cameron Mackintosh
Roteiro: William Nicholson, baseado na obra de Victor Hugo
Fotografia: Danny Cohen
Trilha Sonora: Claude-Michel Schönberg
Duração: 157 min.
Ano: 2012
País: Reino Unido
Gênero: Musical
Cor: Colorido
Distribuidora: Paramount Pictures Brasil
Estúdio: Working Title Films / Cameron Mackintosh Ltd.
Classificação: 10 anos

Semana que vem, hora do queridinho do mês de fevereiro: TARANTINO e seu Django.

Abraços!

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